sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Hoje chegou o vento. Chegou o vento e as pequenas partículas que viajam durante o ano, aterram nos meus ombros. Aterram e carregam, aumentando o peso, como que a verem se sou capaz de aguentar. O vento que chegou despenteia-me. O cabelo dança descontrolado como se ao som da música de Cage. O tal caos. Mas eu fujo do caos, não gosto, fico desconfortável. Mas ele está lá, no vento que chegou. Sentada no banco do jardim, apaixono-me em 5 minutos. E vai-se o controle. E vai-se parte de mim. Fica ali fora, a fazer companhia às partículas que chegam e que se instalam a ver a cena.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Pergunto-me se ainda sei como isto funciona. Pergunto-me se se inicia um texto com uma pergunta. Não sei a resposta, e na verdade sempre fui melhor a perguntar do que a responder. Hesitei, como hesito tantas vezes. Mas sentia tanta falta, sinto tanta falta. Olho o cursor, como o faço tantas vezes e parece que me estou a ver projectada no écran. Passa-se tanta coisa e parece que estou na mesma, tal como o cursor que pisca vezes infinitas e se mantém igual, securizante na sua monotonia. As palavras têm vindo a acumular-se mas neste momento preciso queimam-me o peito. Fica o ardor e a dor. E tenho que me libertar. O tempo passa e eu estou na mesma, igual ao cursor que pisca. Volto a encontrar-me na noite, volto a precisar de calar este silêncio que me oprime. Volto para aqui.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Não fosse a pele morena a destoar, o branco que envergo confundir-se-ia com o branco do sofá onde me afundo enquanto ouço uma bossa nova. Sinto-me como se o mundo fosse a minha pátria. À minha volta tenho por companhia línguas que não decifro, restando-me adivinhar o teor das conversas. Algumas são zangas, claramente, porque nisso somos semelhantes, nem que seja pela sobrancelha que sai da sua posição habitual. A linguagem corporal torna-nos mais próximos, como se de facto a nossa pátria fosse a mesma e nós vizinhos. Ouço bossa nova, enquanto observo a dança entre a mulher vestida de negro e o contrabaixo, deixando para segundo plano a voz masculina que se acompanha da viola. E eu, acompanhada desta pele morena que destoa do branco que me acolhe, sinto-me em casa, apesar de longe.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Sou pessoa de esquisitices, desde sempre. Há quem veja nisso fonte de grande irritação, da mesma maneira que há quem ache a maior graça. Como sempre. Sou esquisita por exemplo em relação a praias. Se na adolescência me zangava com as praias que me calhavam na sorte (i.e. escolhidas pelos meus pais) porque não suportava um areal só para nós e a constatação de que a minha vida social era francamente prejudicada por esse facto, hoje fico maldisposta por ter que partilhar um pedaço de mar com outros seres (humanos). Mas de vez em quando temos que ceder, como hoje. E tento não me irritar, mas olhar em volta e mudar de lugar se isso me ajudar. Aqui no Zavial, há gente, barulho e cheiro a erva fumada. E isso incomoda-me. Pelo menos até descobrir que uma parte do Zavial é ocupado por nudistas. E sentada junto às rochas que habitam o fundo da praia, entretenho-me a ver os corpos desnudos. E se há corpos. Literalmente para todos os gostos, fetiches e credos. E entretenho-me a olhar para as imperfeições que contam histórias das vidas destes que tenho à minha frente. E enquanto imagino as vidas dos outros, escuso-me de pensar no que de mal vai na minha.
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